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MANIFESTO

BARRAVENTO

" 'Barravento' é o momento de violência, quando as coisas de terra e mar se transformam, quando no amor, na vida e no meio social ocorrem súbitas mudanças." G. Rocha

Os protestos nas ruas de junho de 2013 despertaram significativos setores sociais para certos problemas do capitalismo brasileiro. A aparente calmaria inaugurada pela República de 1988 foi desaparecendo na medida em que as disputas políticas na distante Brasília repercutiam cada vez mais no cotidiano do país. Por um lado, viu-se o progressismo passar por uma significativa expansão enquanto, por outro, o reacionarismo, que habitava momentaneamente o subsolo nacional, reapareceu com todo o vigor. Nenhum desses dois campos corresponde às nossas ambições. Em meio à essa jovem militância que ingressa na luta social, pertencemos ao setor que, rompendo com a corrente majoritária da esquerda brasileira - hegemonizada pelo projeto democrático-popular e tendo como principal liderança o Partido dos Trabalhadores -, teve como ponto de chegada a crítica radical da sociedade, mais especificamente, o marxismo.
 

Nós, membros de diferentes organizações políticas, somos, de alguma maneira, resultado de 2013 e de seus desdobramentos. Nossa decisão de ingressar na luta comunista, diante da dramaticidade do momento histórico brasileiro, nos trouxe muito mais dúvidas do que respostas. Afinal, se a responsabilidade do revolucionário é realizar a revolução, não nos tem parecido tão simples fazê-la.

Problemas do nosso tempo

O capitalismo tem demonstrado grande capacidade de sobrevida, o que implica, necessariamente, na permanente condição de miséria da maior parte da humanidade; não apenas a miséria material, mas também a miséria “espiritual”: uma forma social que cria seres humanos cada vez mais destroçados e individualidades amesquinhadas, destinadas à mera reprodução das relações burguesas. A dinâmica da sociedade burguesa se apresenta em contraposição aos reais interesses da humanidade; o recorrente fracasso das tentativas de apassivar essas contradições e de gerir este sistema serviram apenas para tornar evidente o caráter violento, anárquico e incontrolável do modo de produção capitalista.
 

Destarte, nos deparamos não apenas com a derrota das revoluções proletárias e populares no século XX, mas também com um acachapante revés na luta da classe trabalhadora mundial. Tais fatos levaram muitos a proclamar o fim da “utopia” comunista, ou pior, a própria nulidade de toda a teoria marxista. Nós, porém, permanecemos certos de que os humanos fazem sua história: não simplesmente como querem, mas sim como podem, diante das condições concretas que lhes são impostas. A heroica e trágica epopeia do socialismo no século passado, não foi o último ato da classe trabalhadora, mas um exemplo da força dos eventos que protagonizou e pode protagonizar. 

O Renascimento do Marxismo

Estamos diante de um momento crucial da história; no qual a irreversível degradação das relações humanas sob o jugo do capital parece não ter mais saídas. Entretanto, a obra de Marx, de Engels e de outros tantos destacados marxistas fornecem um robusto conhecimento acerca das leis mais fundamentais, bem como constituem um importante arsenal teórico para a compreensão da gênese e estrutura do desenvolvimento capitalista.
 

Sabemos que é inerente à própria dinâmica da realidade criar fenômenos qualitativamente novos e mais complexos na sociedade burguesa, principalmente no que tange aos impactos contraditórios dos novos índices de produtividade do trabalho - alcançados com as mudanças tecnológicas das forças produtivas e a relativa alteração na composição da classe trabalhadora. Por isso, sem que a teoria acompanhe de perto esses movimentos da realidade, é impossível compreender a atualidade do modo de produção capitalista e agir pela sua destruição completa.
 

Entretanto, não nos filiamos àqueles que se proclamam como reformadores ou modernizadores do marxismo. A cientificidade encontra-se nos próprios fundamentos marxistas. Restabelecer os padrões de cientificidade, muito distante de mero exercício de diletantismo acadêmico, diz respeito ao fortalecimento de nossa própria teoria; através da qual se compreende a realidade com mais exatidão e que, em última instância, permite tomarmos as decisões mais acertadas na práxis revolucionária. Isso implica, evidentemente, no compromisso com o árduo trabalho de sempre detectar e afastar os equívocos, as distorções e as simplificações que marcam a acidentada história do marxismo.
 

Não estamos sendo, de modo algum, inovadores. A própria história do século XX fornece exemplos de fenômenos que Marx e Engels não observaram plenamente desenvolvidos em seu tempo. Alguns deles foram objeto da pesquisa desenvolvida por Lênin a respeito do imperialismo e de seus desdobramentos, revelando o surgimento da aristocracia operária e aliança desta com a burguesia nos países centrais do capitalismo; o que impactou diretamente nas condições para que uma revolução proletária obtivesse sucesso.

A Barravento

É preciso somar esforços na retomada de um projeto que se oponha radicalmente ao ideário burguês (cada vez mais decadente, reacionário e bárbaro) em todas as suas vertentes, incluindo àquelas que se apresentam nas cores da esquerda, da mera justiça social, na igualdade formal e no estatismo econômico; representadas atualmente pelo reformismo. 
 

Calcados no fundamento irrevogável de que o movimento comunista deve sempre alcançar patamares mais altos de consciência, clareza e objetividade através da teoria, apresentamos a Revista Barravento como um instrumento para investigar, debater e divulgar acerca da história da luta de classes no Brasil e sua atual relação com o mundo. Queremos contribuir para uma melhor compreensão do atual patamar de desenvolvimento do capital; de suas atuais crises; das dinâmicas particulares ao capitalismo nacional; da situação e conformação da classe trabalhadora na presente etapa de desenvolvimento do modo de produção capitalista; bem como a repercussão desses fenômenos sobre a esquerda e suas posições.
 

Este é, com certeza, um projeto de grande ambição. No entanto, estamos absolutamente convencidos da necessidade de dar um passo rumo à superação do divórcio entre os revolucionários e o uso da ciência. Faz parte desse processo incentivar o estudo sistemático, a leitura e a pesquisa por parte dos revolucionários brasileiros, combatendo, assim, a miséria "espiritual" que a sociedade nos impõe por todos os meios possíveis. É preciso superar a atual condição que nos encurrala entre os caminhos da deserção da revolução social, da afirmação da impossibilidade dela e do refúgio no propagandismo de nosso passado - o qual, mesmo sendo, de fato, heroico, é incapaz de solucionar nossas atuais debilidades.
 

A reafirmação do elemento científico do marxismo não visa cumprir um itinerário de isolamento ou de sectarismo em meio ao círculo de discussão dos marxistas. Na verdade, buscamos privilegiar sempre os aspectos qualitativos que orientem uma decidida ação revolucionária. Assim, esperamos intervir no debate público a partir da atual e concreta situação do movimento proletário; tendo em conta suas debilidades e seu atual nível de consciência, mas sempre primando pela crítica radical no seio da esquerda. Acreditamos que apenas nesse caminho podemos contribuir na efetiva reconstrução do campo marxista no Brasil - pautada na independência de classe do proletariado, sob a qual as tomadas de posição sejam orientadas claramente pelos interesses históricos da classe trabalhadora no sentido da revolução social, do projeto de emancipação humana.
 

A Revista Barravento é formada por jovens marxistas que, compreendendo a necessidade da produção e divulgação de conhecimento para a construção da revolução, se unem em esforço coletivo para tentar analisar a realidade nacional e divulgar o pensamento marxista. É ciente da importância da construção da intelectualidade marxista brasileira que nos propomos – com todas as nossas limitações - a contribuir para essa tarefa. 
 

A Barravento é dividida em quatro eixos temáticos, sendo eles: Política e Crítica Econômica; Ideologia, Arte e Cultura; Tradução; Teoria em Movimento. Os nomes dos três primeiros eixos nos parecem suficientemente autoexplicativos. No entanto, no que tange ao eixo Teoria em Movimento reservamos um espaço de nossa revista para a publicação de textos externos ao nosso corpo editorial que julgamos importantes para a compreensão da nossa realidade.

Equipe

Ana Luise
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Historiador formado pela Universidade Federal de Juiz de Fora, mestrando em Administração na mesma instituição e músico. Militante marxista organizado. Desenvolve estudos nas áreas de Economia Política, Administração Política, Organização do Trabalho, Historiografia e História Social e Econômica. Outras áreas de interesse: ideologia, arquitetura e urbanismo, patrimônio, música e estética.

                  Igor Dias

Ayrton
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Tradutor, bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo e estudante de licenciatura na mesma universidade. Desenvolve estudos na área de literaturas em língua espanhola. Outras áreas de interesse: ficção, tradução, teoria da literatura, poética e retórica, crítica da economia política, história da leitura, estética da recepção e semiótica.

                      João Veloso

Igor
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Estudante de Letras - Estudos Literários, na faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais, com passagem significativa pelo percurso formativo em tradução. Tradutora português-japonês. Desenvolve estudos em literatura samurai e antigos textos budistas. Tradutora autônoma de poemas de morte.

              Helena Zika

João
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Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolve pesquisas relacionadas à mercadoria ilegal e o papel do direito na expropriação de mais valor. Outras áreas de interesse: abolicionismo penal, criminologia crítica marxista e feminismo marxista.

                   Lavínea Seabra

Helena
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Advogada formada pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Desenvolve estudos acerca da crítica ao Direito, ao Estado e à democracia burguesa. Outras áreas de interesse: crítica da economia política, processo de consciência, ideologia e feminismo marxista.

               Lígia Cerqueira Fernandes

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Bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Mestrando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais. Desenvolve estudos nas áreas do Direito, do Estado, da individualidade burguesa e da formação social brasileira. Outras áreas de interesse: crítica da economia política, do capitalismo contemporâneo e da cultura.

                          Pedro Badô

Pedro
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Professor de Filosofia formado pela PUC - MG (COREU) e graduando em Sistemas da Informação pelo IFMG (Sabará). Militante marxista. Outras áreas de interesse: tecnologia da informação, forma partido.

               Rafael Jácome

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Graduando em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais; desenvolve estudos nas áreas da política e do Direito. Outras áreas de interesse: literatura, estética e crítica da economia política.

                      Rodrigo Righi

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Graduado em Filosofia pela UFSJ. Mestrando em Filosofia pela UFSC na área de Ontologia, com ênfase em Filosofia da Arte e Estética. Desenvolve pesquisa a partir de György Lukács. Outras áreas de interesse: História da Filosofia, Teoria/crítica literária e Estética.

                Wesley Sousa

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Mestrando em Ética Filosofia Política na Universidade Federal do ABC. Possui licenciatura plena em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas). Atualmente trabalha com os seguintes temas: Fenomenologia, Existencialismo, Literatura existencialista, Jean-Paul Sartre. - Além disso, possui grande interesse por ontologia e marxismo.

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              Raul Signorini

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