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Tolstói e a luta proletária

por V. I. Lênin


Assim como o texto que abriu a presente série de textos, a primeira tradução desse escrito para a língua portuguesa foi feita por Eneida de Morais para compilação de textos e trechos (Trechos escolhidos sobre literatura e arte: Marx, Engels, Lenin e Stalin. Rio de Janeiro: Editorial Calvino, 1945) de Jean Fréville.

Tendo por base fundamental tal versão em português, a partir da comparação entre a versão do texto em espanhol (Lenin, V. I. Obras completas. Tomo XX, Moscou: Progreso, 1983, p. 73-74) e em inglês (Lenin, V. I. Collected Works. Vol. 16, Moscow: Progress Publishers, 1973, p. 353-354), realizamos consultas ao texto no original russo nas Obras Completas. Reforçamos aqui que nossa proficiência no idioma russo é ainda muito débil, sendo essa mais uma tradução provisória, preocupada centralmente em retomar o sentido de alguns elementos, como termos, palavras e ideias, perdidos pelas traduções disponíveis ao público lusófono.

 

Revisão de tradução por Pedro Rocha.

Revisão textual por Wesley Sousa. 

 

Tolstói fustigava com enorme força e sinceridade as classes dominantes, desmascarou com grande clareza a falsidade inerente a todas as instituições que ajudam a manter sociedade contemporânea: a Igreja, os tribunais, o militarismo, o casamento “legal”, a ciência burguesa. Mas seus ensinamentos revelaram-se em contradição completa com a vida, com o trabalho e com a luta do coveiro da ordem moderna, o proletariado. Qual o ponto de vista que se refletiu na pregação de Tolstói? Por meio de sua boca falava esta massa do povo russo, os milhões de homens que detestam os senhores da vida moderna, mas que não tinham ainda atingido a luta consciente, consequente e implacável contra eles.

A história e o resultado da grande revolução russa demonstraram que essa foi precisamente a massa que se encontrava entre o proletariado socialista consciente e os defensores resolutos do velho regime. Essa massa — principalmente o campesinato — demonstrou, durante a revolução, como era grande seu ódio contra o velho, como sentia vivamente todo o peso do regime moderno, quão grande é nela o desejo espontâneo de libertar-se dele e encontrar uma vida melhor.

E, ao mesmo tempo, essa massa demonstrou durante a revolução que era insuficientemente consciente em seu ódio, inconsequente em sua luta, confinada por estreitos limites em sua busca por uma vida melhor.

O grande mar do povo, agitado até às suas profundezas, com todas as suas fraquezas e toda sua força, encontrou o seu reflexo nos ensinamentos de Tolstói.

Ao estudar as obras de arte de Liev Tolstói, a classe trabalhadora russa conhecerá melhor seus inimigos, e ao compreender os ensinamentos de Tolstói, todo o povo russo deverá compreender em que consistiu sua própria fraqueza, que não lhe permitiu levar até o fim a causa de sua libertação. Isso precisa ser compreendido para seguir em frente.

Esse movimento para frente é impedido por todos aqueles que proclamam Tolstói como a “consciência geral”, como “mestre da vida”. É uma mentira espalhada conscientemente pelos liberais, desejosos por utilizar o lado antirrevolucionário dos ensinamentos de Tolstói. Essa mentira sobre Tolstói, como “mestre da vida”, é repetida por liberais e por alguns antigos social-democratas.

Então, o povo russo só alcançará sua libertação quando entender que deve aprender a buscar por uma vida melhor não com Tolstói, mas com a classe cuja importância Tolstói não compreendia e que é a única capaz de destruir o velho mundo que Tolstói odiava — o proletariado.

Rabotchaia Gazeta, nº 2, 18 (31, no calendário gregoriano) de dezembro de 1910.

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