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Crise.

por Rafael Jácome



Relutei muito em tomar um posicionamento público mais elaborado sobre a crise do PCB por alguns motivos: I) pois eu creio que o espaço caótico e arbitrário das redes sociais, favorece mais o arrivismo que propriamente o esclarecimento das questões e, tirando um segundo momento em que alguns camaradas da Coletivo Negro Minervino de Oliveira (CNMO) se lançaram a argumentações mais elaboradas, tudo estava colocado nas redes sociais como uma colcha de retalhos de opiniões difusas, animosidades e que nascia a partir de algum material áudio visual produzido aqui e ali, por canais privados; II) pois apesar de discordar ferrenhamente do caráter amador da regulamentação nacional de redes sociais (sim, precisamos de uma regulamentação para essas esferas, inclusive para canais de médio e grande porte de comunicadores), feita pelo Comitê Central do PCB (CC-PCB), tento, na medida do possível (não consegui totalmente), me centralizar pelo que as instâncias do partido determina. Defendo a liberdade de crítica, mas, como o velho Lênin coloca, a liberdade de crítica vem junto da liberdade de associação e ao se associar a uma organização centralizada, você sempre acaba por aderir a métodos amadurecidos dos quais discorda e é preciso paciência; e, ainda, III) com isso eu estou sim rompendo o “centralismo democrático” formalizado pelo PCB, mas, sem universalizar o rompimento como aprioristicamente louvável, visto que, nessa situação complexa, motivos diversos levaram a variadas formas de manifestações públicas dos militantes, eu me responsabilizo pelos meus motivos e/ou de camaradas que buscaram qualificar o debate sem recorrer ao ódio e ao reducionismo (Salve camaradas do CNMO!).

Mas paciência tem limites!


A Máquina X A Palavra*

Não foram poucas as vezes que, em momentos em que pude tocar tarefas de recrutamento, camaradas intitulados como “influencers” ou “youtubers” foram citados como porta de entrada e despertar para a noção da necessidade organizativa. Isso se constitui como um mérito, não podemos negar. Eles (ainda que por muitos deles eu nutra discordâncias e já tenha visto deliberadamente usarem de retórica e força dos “likes” para ganhar ou se esquivar de debates importantes, cruciais e necessários para o corpo da militância) conseguiram desenvolver métodos de disseminação do marxismo que não resta outra coisa para nós, comunistas com problemas de gerar estrutura para expandir nossa organização, que qualificar tais métodos e os colocar sob o controle do partido e suas instâncias, para fazer ecoar debates e sínteses internas, bem como palavras de ordem em momentos candentes da luta de classes. E ainda contaram com um contexto objetivo em que tais meios ganharam destaque (Pandemia), “juntando a fome com a vontade de comer” (como diria vovó Jácome). Numa análise superficial de tais experiências, diria que não nos cabe abandonar a noção de jornal, mas sim entender que talvez a centralidade comunicativa esteja mais no conteúdo que nos meios, sendo agora a noção de um jornal da classe e para classe uma gama complexa e diferenciada de gestão de canais comunicativos, explorando diversas formas de se passar o debate, desde o mais sofisticado ao mais básicos e formativos.

No entanto, tais canais geram um problema para a questão da disputa da linha política. Como disse anteriormente, tais canais são particulares. Isso não significa desconsiderar que se trata do “ganha-pão”, tais camaradas estão mais que certos em se lançarem na tentativa de aliar convicção político partidária com meios de auto sustento. Eu mesmo, por uma insuficiência do próprio partido em profissionalizar (remunerar e qualificar) minha atuação hiper-dedicada de antes da paternidade, passei por mazelas para me estabelecer até o ponto em que eu pudesse ter a certeza de que o aluguel do mês que vem está pago. Mas se por um lado não devemos cair no moralismo de condená-los estritamente por isso, também não podemos deixar passar em branco que tais eles acabam por assumir uma posição de maior força que a estrutura partidária no processo de disputa ideológica. Apesar de ganha-pão remunerado na forma dinheiro pelo mercado (quanto? Não sei e nunca vi), não se trata de um ofício simples quando tal ofício passa não a simplesmente gerar conteúdo ordinário para as plataformas e sim alterar a correlação de forças internas do partido. Compará-los, que empregam camaradas para a produção de material teórico sensível à nossa linha partidária, com camaradas não-comunicadores da direção e sobretudo da base, se trata tão somente de uma comparação abstrata, sem nexo com as determinações reais do que é construir uma organização debilitada na sua forma e conteúdo comunicativo (interno e externo) e amassada pelo contexto de desprestígio das organizações comunistas no interior da classe trabalhadora.

Com isso, esse problema se arrastou; não sendo simplesmente sobre confiar na trajetória individual de comunicador X, ou ressaltar as qualidades morais e teóricas de camarada Y: se trata de um problema real que o PCB, e talvez as demais organizações marxista-leninistas, terão que lidar. Tais comunicadores, e até mesmo outras figuras que os sustentam em seu ofício, possuem interesses que nem sempre serão os mais qualificados para a construção de uma organização marxista-leninista. Eu poderia aqui citar diversos momentos concretos, mas vou confiar na capacidade crítica do leitor de relembrar diversos episódios em que posições individuais foram confundidas com posições oficiais do partido e isso, por si só, já traz um problema de alterar drasticamente o “público-alvo” que chega ao partido. Ou seja, tal público acaba por ser inicialmente filtrado por uma noção ideológica que nem sempre se alinha à síntese coletiva interna ao partido, mas a posições individuais de comunicadores que divergem delas aqui e acolá. Assim, como já aconteceu comigo, gera-se inclusive a necessidade de recrutadores partidários terem que se explicar do porque discordam do comunicador X ou Y e do porque tal visão não é incorporada à linha oficial do partido (muitos não esperam essa contradição!). E isso se constitui um problema quando se sabe mais o que canais particulares trazem como linha política do que o próprio partido. Obviamente alguns dirão que tal problema deve ser uma crítica ao partido e sua incapacidade de assimilar tais meios e não estão de todo errados. Só que simplesmente trazer à tona a tal crítica com ênfase na “culpa”, sem partir dos problemas que essa contradição atual traz pro contexto imediato, é mera saída retórica sem compromisso de solucioná-la.

Sabemos bem que a política é o cemitério dos inocentes. Por tal motivo, é preciso munir as organizações para que elas sejam capazes de, eventualmente, neutralizar o oportunismo que possa vir junto a alguma figura pública com canal consolidado. Aqui faço uma clara explanação de que não se trata apenas ou especificamente de Jones Manoel e de outros comunicadores similares que, porventura, tenham relações com PCB. Mas é verdade que tenho profundas preocupações dos problemas gerados por Jones ao dar demasiado espaço para figuras como Elias Jabbour, o qual não só lançou toda sorte de ataques às organizações que não fecharam com Lula no primeiro turno durante o processo eleitoral, como também, mesmo tendo contribuído para clarificar algumas questões econômicas e estatísticas sobre a China (Socialista? Creio que não!), buscou operar um profundo rebaixamento da teoria marxista ao disseminar revisionismos e mais revisionismos sobre Lênin e Marx. O ápice tragicômico foi quando ele disse que o debate sobre o fetiche da mercadoria era um debate pequeno burguês, mas aí ele já estava “grande” demais para tal posicionamento vergonhoso mostrar seu caráter limitado e manualesco. Pode-se colocar tal associação meramente na conta de uma abstrata diversidade editoral, debate de ideias ou qualquer coisa que nos pareça favorecer questões de produção intelectual, mas a escolha de alavancar tal figura não passou pelos meandros de um debate coletivo, em que se pode não desconsiderar o autor dos dados econômicos sobre a China ao mesmo tempo que não se propague sua imagem como algo inofensiva a nossa linha. Maquiavel às vezes é necessário e ele tem mais sentido, para nós comunistas, num corpo coletivo do que numa empreitada individual.

Sabemos também que o livro O centralismo democrático de Lênin do LavraPalavra, apesar de não justificar um rechaço enorme, foi sim lançado nas vésperas do Congresso do PCB, contendo em seu prefácio e posfácio posicionamentos que visavam disputar através de um lançamento privado a linha do partido. Foi um livro para a disputa da linha partidária no pré congresso, isto é mais que claro e tem impactos que reforçam as contradições já elencadas aqui neste texto. Creio que a postura da direção do PCB de centrar fogo e criar todo um rebuliço em cima de um livro tenha sido equivocada. Afinal,se não temos centralismo teórico no partido, além do fato de que se trata de textos de LÊNIN, bastava dizer que todo militante tem o direito de ler e indicar o que quiser de Lênin e que nas reuniões e formações oficiais do partido os militantes podiam ler e indicar tranquilamente qualquer texto contido ali, desde que fosse ressaltado que o prefácio era muito problemático e que se tem fontes iguais ou até melhores para se ler tais textos. Talvez uma resposta interna (nem tudo é debate público, né?) teria muito mais efeito do que se explicar agora e até prepararia a nossas bases e direções para o momento presente. O mundo editorial é diverso, como pode um prefácio e um posfácio justificar tanto alarde ao invés de ser contornado ou desarticulado com maestria? Ou seja, somente um compromisso sério com a produção intelectual e o debate através da máquina partidária, poderia fazer frente e superar as limitações que nascem das iniciativas individuais de alguns nomes que se lançam ao calor da disputa. Se os dirigentes partidários querem se munir disso, ao menos façam corretamente e aqui tem de se admitir que estão aprendendo no processo de crise como se faz isso (vide a evolução do estilo e conteúdo das notas internas e externas).

Mas bem, tal crescimento advindo dessa nova dinâmica comunicativa que, em muitos aspectos se desenvolveu alheio aos planejamentos internos do PCB, contribui para seu crescimento. Não adianta dizer que se trata de um crescimento com somente perfis problemáticos, somente com camadas pequeno-burguesas da universidade, pois não é. Mesmo que ainda tenhamos mais inserção no ME, não se deve esquecer que a classe trabalhadora consome conteúdos no YouTube, as formas comunicativas da internet estão definitivamente na vida do trabalhador, basta ver os exemplos do crescimento da direita via fake news. Bolsonaro não foi eleito pela pequena-burguesia, nem tão pouco Lula e seu contra-ataque eleitoral nas eleições de 2022, pintando-o como um herói do povo, salvador da pátria e com doses de carinho e mensagens de afeto no Twitter na medida que costurava um pacto de classes ainda mais rebaixado. Quem elegeu estes dois seres pitorescos do cenário político brasileiro foram os trabalhadores que, apesar da imperiosa força da televisão, hoje também consomem em larga escala conteúdo audiovisual da internet (não fosse verdade, não existiria o famigerado “youtuber”). Ou seja, não julgar o trabalho atual como o que queremos, não implica de que não devemos fazer um trabalho que assimile tais formas, inclusive - sobre outras questões pujantes que nossa forma organizativa precisa melhorar -eu pretendo e vou travar um debate interno sobre nossa capacidade de manipular, cruzar e armazear dados e gerar estatisticas.


Não existe “terceira via”. Existe quem via e não acreditava.**

Ainda me lembro bem: um certo ex-dirigente que hoje cerra fileira junto aos revoltados com a máquina partidária, há tempos atrás, logo após o fim da minha atuação na juventude do partido (a UJC), ligou para uma camarada – que na época segurou o rojão de dirigir a UJC-MG com maestria junto comigo – e, segundo essa camarada, aos gritos, ele a “centralizou” por não obedecer às ordens da Coordenação Nacional da Juventude (CN-UJC). Ordens que nasciam de um simples problema comunicativo interno e que, ironicamente, remetia à liberdade do núcleo e da Coordenação Estadual (CE MG) da UJC de formular métodos para seu processo de atuação local, segundo a necessidade diretiva de se dar respostas rápidas para problemas imediatos. Foi me dito que esse “camarada” fez autocrítica dessas e de outras sandices que presenciei, mas se foi feito deve ter sido feita para seu círculo de amizades internas e não para o corpo da militância a qual dirigiu como uma das figuras centrais.

Mas vejam bem, nesse caso em específico, trouxe o exemplo não na tentativa de desqualificar o conteúdo das críticas do ex-dirigente sobre o enrijecimento da nossa dinâmica partidária, nem de justificar qualquer processo de irregularidade que, porventura, tenha recaído sobre ele, mas tão somente para frisar que mesmo que se sintetize em algumas situações e figuras individuais problemas gerais organizativos que agora ganham a expressão de desespero, não temos que tratar tais situações ou personalidades com heroísmo ou qualquer dose de romantismo. Muitos desses “camaradas” nutriram ou ajudaram a nutrir estruturas e dinâmicas em que outrora militantes foram massacrados por fazerem a mesma crítica que eles. A verdade sobre quem sinceramente rompeu com tais métodos e quem está usando a atual crise como mero instrumento, somente o tempo vai mostrar (ou não). Só que se cria uma situação em que todo camarada com quem eu converso, que passou pelos problemas do meu tempo crava: era uma tragédia anunciada. E é daí que nasce a desconfiança.

No caso anterior citei o destrato de um ex-dirigente, atual defensor da liberdade de crítica e supostamente de um tratamento digno da direção com a base, mas agora cito um problema de linha que eu ainda julgo como igualmente relevante (conteúdo e forma se combinam).

Um ponto que ganhou expressão na crítica ao Comitê Central (CC) é de que ele está fazendo uma virada reformista. Essa é uma crítica que tem pressupostos válidos, visto que, para um marxista-leninista, qualquer sinal de reformismo deve ser colocado sob o crivo da crítica. De fato essa Plataforma Mundial Anti-imperialista (PMAI) deve ser olhada com bastante desconfiança. Faz parte do jogo. Entretanto, o que não é mostrado é que não se trata de uma guinada reformista momentânea que, do nada, brotou de forma espontânea. Um setor reformista sempre sobreviveu na cúpula partidária e existia uma tensão permanente com muitos militantes da base (inclusive eu) que tentaram, cada um a seu tempo e com limitações diversas, manter a tensão para que o caldo não virasse de vez. É isso que deve ser notado: uma tensão permanente e processual que se arrastou durante anos.

E o mais crucial de se perguntar: Por que tais elementos antes coexistiam, ao passo que a base era triturada em tarefismos dos mais diversos?

Convivia porque, além de determinações como crescimento organizativo e conjuntura que antes não existiam, figuras centrais ou pelo menos destacadas do que hoje se auto define como “ala esquerda”, estavam comprometidas na implementação desse mesmo tarefismo que massacrou a base e juntos aos seus atuais adversários. Inclusive, esse massacre também se dava como mecanismo de enfraquecer lados da tensão que divergiam de uma linha rebaixada. Não basta dizer que eles “sinceramente” se arrependem, mas sim se deve pautar o balanço efetivo de tais posições passadas. Se a crítica da linha deve ser aberta, então a autocrítica dos dirigentes que a deterioraram também deveria ser!

No penúltimo congresso da UJC e o último que eu participei, uma parte dessas figuras atuais conseguiram hegemonizar a UJC (através da direção) na aprovação da tese de que no Brasil, ainda sob o governo Temer, era gerido por um “Estado Fascista”. Podemos debater se o governo Bolsonaro foi de fato uma implementação do fascismo ou um aprofundamento das características mais opressivas internas à democracia burguesa (fico com esta última), mas fato é que toda linha tem uma consequência prática e, para nós, aquela caracterização apressada sobre os rumos que a política brasileira estava tomando, era que a consequência prática diante da caracterização do “fascismo” vinha junto uma pressão interna da Coordenação Nacional pela aliança com setores reformistas do movimento estudantil. Os militantes de Minas Gerais foram isolados na tentativa de dizer que I) não se tinha acúmulo suficiente para uma caracterização científica daquele governo e II) que as consequências práticas daquilo não condiziam com as linhas de uma oposição marxista-leninista na luta de classes. Ficou escancarado que, dentro da CN UJC e no desenvolver dos trabalhos pelo Brasil, tal linha já estava amarrada, sobretudo pelas habilidades da pequena política de um dirigente que sempre foi um queridinho de Ivan Pinheiro.

Tal queridinho do Ivan era um gênio da pequena política, apesar de reformista (foi apoiar Lula no primeiro turno, vai com Deus). Lembro de quando fui chamado a uma análise das direções estaduais no CONUBES e questionei nossa proximidade a certas correntes do PSOL, resultado: análise coletiva encerrada. Ele também colocava em volta de si figuras destacadas, com habilidades ímpares e conseguia sustentar direções na CN com pouco ou sem nenhum respaldo na base, sempre no sentido de hegemonizar a operacionalização dos trabalhos. Entre essas pessoas estava uma figura proeminente que hoje se destaca na “ala esquerda”. Tal figura me vem à memória por defender, se me lembro bem, nos eventos de abertura de alguma atividade nacional, que iríamos “fazer aliança até com o diabo” para conseguir nossos objetivos. Parecia até mesmo que a figura já preparava a caracterização para como a base veria o CC de hoje (“o Diabo”), mas na verdade ela estava simplesmente defendendo uma flexibilização da nossa política de alianças num giro à direita, em que forças como o Levantes Popular da Juventude (LPJ) e a União da Juventude Socialista (UJS) passariam a ter menos rejeição da nossa parte em nossas movimentações. E é aí que reside a desconfiança.

Nada contra o reconhecimento da necessidade de reformulação da nossa organização, num sentido de construir um partido mais próximo da concepção de Lênin (me assusta não existir um Órgão Central real no PCB, por exemplo), mas fato é que essa atual movimentação dissidente tem seus expoentes entranhados na máquina do partido, e tais expoentes, que são determinantes enquanto dirigentes da crise, em muitos casos, foram responsáveis por outrora tocar justamente a política e as práticas que hoje nos chamam a derrotar. Quando o processo de direção, na tentativa de captar os anseios da base se dá justamente pela liberdade de crítica com bandeira de se combater o reformismo através debate franco e aberto, você acaba por se perguntar: mas são essas direções aí que irão operacionalizar isso? As pessoas que operacionalizaram justamente a consolidação dos problemas que hoje elas dizem atacar? Se não existiu um giro derradeiro a direita na linha do PCB e seus coletivos, não foram graças a estes.

Não existiu autocrítica por parte dessas pessoas – que antes eram parte do problema e que agora dizem querer eliminá-lo – e, se em algum momento teve, não foi junto à base. Então o mínimo, para quem acompanhou todo o processo, é manter uma desconfiança profunda, dado que os elementos de uma crise são nebulosos e uma superação efetiva não se prova no calor do momento, mas na consolidação daquilo que é proposto. Os homens são não o que falam de si, mas sim o fazem na reprodução das relações sociais, já diria o velho Marx, e é no mínimo curioso que uma “crise” que coloca no centro de suas contradições ideológicas o debate sobre o papel dirigente e a forma organizativa, deixa passar sem grandes resgates os erros passados de figuras assim.

Os camaradas do CC atual e seus defensores, caso tivessem tido um compromisso com a disputa necessária para resolver os desafios colocados, teriam levado o último Congresso às consequências de um embate verdadeiro, mas, ao contrário, obviamente buscou coroar sua inaptidão com uma aliança congressual artificial entre setores inconciliáveis (lembrem-se, acordo não se faz sozinho); uma inaptidão em sentir os anseios da base que se arrastou durante anos e, por isso, deixou de ter a capacidade de captar, ditar a velocidade e os métodos para implementação das mudanças necessárias pro crescimento organizativo. O mínimo que se esperava de uma organização consequente era ter pressionado essas figuras dissidentes para que elas apresentassem suas contradições num processo de balanço autocrítico, mostrando a contradição de sua argumentação com o seu histórico e se antecipando ao que estava por vir, mas obviamente para isso era preciso também fazer uma autocrítica séria por parte do grupo do atual CC que remetesse a superação da dinâmica partidária e métodos de trabalho vigente. O preço de se lançar na briga é ter que se corrigir no processo, não é mesmo?

Mas enfim, não quero aqui dar respostas precisamente do que deve ser feito pelos militantes que ainda continuarão no PCB (como é meu caso), creio que além da postura sempre crítica e ativa que devemos ter em todos os espaços, sem medo de represálias dos que vão e dos que ficam, ainda está por se desenhar o papel de muitos agentes desse contexto. Às vezes me pergunto o quão niilista é minha condição, minha análise e minhas ponderações. Alguns chamam de “centrista”, outros de “terceira via”, mas se você for olhar de maneira mais aproximada, se trata em geral da situação histórica dos trabalhadores e a sua relação com as organizações de esquerda, desde as grandes derrotas das décadas de 60, 70 e 80; um misto de não é possível que isso seja o melhor mundo possível, com a desconfiança se de fato o mundo tem solução. Só que no meu caso, graças ao PCB e sua formação deficiente, esse dilema se dá dentro de uma organização marxista e em relação aos desafios de um trabalhador organizado; construir um partido da classe! Continuo, sem sombra de dúvidas, um marxista. E como leninista que sou, sigo naquele partido que demonstra ter maior capacidade concreta de fazer avançar a luta de classes na perspectiva do trabalho e da revolução. Continuo no PCB, mesmo e por causa das críticas que possuo.



 

*Alguns atacarão o fato da Barravento ser uma revista privada e eu ser incoerente de postar tal crítica aqui. Mas tal comparação é tão plausível quanto a que iguala os comunicadores com grandes canais endinheirados. Debater a forma e não as determinações concretas, faz alguns se esquecerem que gradações são importantes na análise do potencial de impacto de algo. Barravento é no máximo uma revista “boa”, mas longe de ser uma revista com amplo alcance.

**Alguns camaradas vão questionar do porque não citar nomes e datas, para “provar” o acontecido. Primeiro que não se trata de um tribunal, mas sim de uma reconstrução de alguns aspectos das escolhas e caminhos que nos trouxeram até aqui. Segundo que tal situação envolve pessoas que não necessariamente querem seus nomes expostos. Quarto que quem não quiser confiar na minha análise e relatos, busque outros e tire a prova por si mesmo (não quero e não posso ser oráculo de ninguém).




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